G-O-R-D-O-F-O-B-I-A

O preconceito que sempre atingiu os gordos tem sido tratado (recentemente) como gordofobia. Nada mais é que a aversão ao corpo gordo. Tudo isso tem servido para demonstrar a exclusão e as barreiras que uma pessoa gorda enfrenta numa sociedade como a nossa.

Eu, como pessoa gorda, posso dizer que ela está em todo lugar. Nas piadas dos amigos, nas assentos dos ônibus. O mundo foi feito pro padrão magro. Nós, mulheres ainda temos um recorte ainda maior. Homens gordos não são considerados tão repugnantes como mulheres gorda. A pressão estética nos consome.

Primeira coisa a se falar é sobre o termo GORDA. Gorda é gorda. Usar qualquer outra palavra pra falar que a pessoa é gorda não ajuda em nada. Só escancara o quanto a gente não sabe lidar com a gordura alheia. Ser gordo não significa que a pessoa é preguiçosa (porque só não emagrece quem quer, né?) ou que a pessoa não é determinada (basta ter foco pra emagrecer, né?), que a pessoa porca (porque gente gorda sua tanto, né?), que o corpo é nojento (esse nem consigo ironizar). Usar palavras como eufemismo para GORDA só reduz a pessoa porque esta é apenas uma característica do seu corpo e nada além disso. GORDA não é xingamento.

Temos que avaliar muito nossa fala. Estamos nos chamando de "imensa", "baleia", "hipopótamo", "porca gorda" e reforçando a condição que só um esteriótipo é bom e aceitável. 

Escutamos a todo momento que nosso rosto é lindo ou que estão preocupados com nossa saúde. Ser belo e magro são quase sinônimos. Só é bela quem é magra. A preocupação com a saúde some quando alguém emagrece alguns quilos. Se foi por motivo de doença, remédios, loucuras? O que a gente escuta é: Veja o lado bom que pelo menos emagreceu.

Somos tratadas como bomba relógio mesmo com a saúde em dia. Profissionais de saúde que nos olham horrorizados, que minam nossa inexistente auto estima, que não sabem como ajudar uma pessoa gorda.

Gordos que não passam em catracas, que não cabem em assentos, que não sentam em cadeiras plásticas, que não escolhem as roupas que vestem. E tudo isso vai além do: É SÓ EMAGRECER! Porque há casos que não se consegue, em há outros em que não se quer emagrecer. Além disso, gordo não é para viver dentro de casa, escondido, sem trabalho e sem amigos.

Andando pelo shopping você vê numa loja de marca: TEMOS 34!!! Daqui a pouco surge o 32 (se ainda não surgiu!!). Tenta vestir um 44 pra ver se acha em alguma loja de marca. Não basta vestir 40, tem quer ser o 38, tem que ser o 36 e agora, olha só, TEMOS 34!

As pessoas falam em fazer dieta pro verão de 2050 como se pra curtir o verão fosse obrigado a se adequar a um determinado corpo. Obrigado não é mas vista um biquini tamanho 56 na praia. Existe???

Toda essa pressão de "não seja gordo" leva muitas pessoas aos transtornos alimentares. Bulimia, anorexia. Porque ela é uma gorda que não consegue emagrecer. Ela não merece nada! É essa mensagem que é passada.

Então o gordo não deve emagrecer? O gordo emagrece se quiser, tem todo direito porque viver tudo isso não é fácil. Gordo segue gordo se assim desejar também. O que não vale é achar que o outro pode opinar no corpo alheio.

Principalmente quando voltamos nossa ideia as crianças pequenas devemos nos alertar pra não propagar esses preconceitos e esses critérios de aceitação para que eles possam ver que não há nada de sujo e feio em outros corpos. Pra que não passem uma vida inteira odiando uma figura no espelho e desejando alcançar um caminho idealizado.

Porque ser feliz não é sinônimo de ser magro. Ser bonito não é sinônimo de ser magro. As piadas não terão a mesma graça e a reflexão já é essencial há muito tempo. Pra que menos mães como a minha tenham que lidar com os apelidos e a exclusão de seus filhos e pra que o mundo entenda que não vamos mais aceitar suas limitações caladas. 

Quem sabe um dia a adolescente coloque seu biquini sem pensar duas vezes e curta o PRÓXIMO verão como se fosse o último.