Quando o combate ao sedentarismo vira gordofobia

Dia 10 de março é o dia nacional de combate ao sedentarismo. Um assunto extremamente importante e que deve ser discutido por profissionais de saúde e sociedade. É um situação cada vez mais recorrente em adultos e em especial, em crianças, num mundo tão cheio de incentivo eletrônico.A grande questão do incentivo ao "mexer o corpo" e luta contra o sedentarismo é quando ele vira luta contra a pessoa gorda. 

No dia 10, vimos pelas redes sociais uma figura que mostra uma mulher gorda (o "antes"), de fisionomia triste, olhar cabisbaixo, calças compridas e camisa de mangas compridas começando uma corrida. O objetivo da imagem era mostrar uma evolução. Há uma imagem da moça com seu "durante" (no centro), mostrando a mesma mulher sem cara de sofrimento, um pouco mais ereta, de bermuda e camisa de mangas. Por fim, há a imagem da mesma mulher no seu "depois". Essa mulher aparece magra, ereta, sorridente, fones no ouvido escutando música, shortinho e camiseta sem mangas.

E por que essa imagem de Antes-Durante-Depois pra lutar contra sedentarismo é gordofóbica? Primeiramente, porque associa ao sedentarismo a pessoas gordas. Quantas pessoas magras você conhece que são sedentárias, vivem em frente a TV, computador e não se exercitam? Eu conheço várias e você provavelmente também conhece. Ser gordo não é necessariamente ser sedentário. Vimos gordos nas olimpíadas, gorda dançando balé, gorda fazendo ioga, gorda corredora, gorda nadadora. A sociedade reduz ao sedentarismo ao ser gordo e com certeza, vai muito além disso.

Uma pesquisa rápida na internet sobre fotos de sedentarismo vai trazer a imagem abaixo. Aconselho a todos a buscarem também. Procurem uma foto de uma pessoa magra e não serão capazes de achar. Vão encontrar fotos e figuras de pessoas gordas, preguiçosas e inclusive com péssima conduta de higiene (A sociedade também acha que gordo é sujo).



Segundo ponto é a postura. Gordos são pessoas infelizes, cabisbaixas e magros são ativos, sorridentes, de bem com vida. Novamente a sociedade quer enfiar goela abaixo em todos nós, gordos, que temos que nos odiar. Que a vida só vai ter sorrisos quando formos magros. 

Gordos só usam calças e camisas pra esconder o corpo. Magros usam shortinhos e camisetas. Escondam seu corpo gordo! A mensagem do corpo gordo nojento, que ninguém quer ter ou ver. Vistam o que couber e não o que te cai bem. Reforça a mensagem que gordo merece qualquer coisa. Se vestiu, tá bom. Cubra seu corpo gordo que ele não merece exposição.

Por fim, tudo isso refletido em cima de uma mulher gorda. Mulher que sofre ainda mais pressão estética do machismo pra se encaixar numa padrão da sociedade. Mulher que tem que estar magra, de shortinho (porque bonito é pra se mostrar) e sorridente pra vida e claro, para os homens. Mulheres que quando gorda são levadas a crer que não merecem ser amadas por ninguém e que só terão uma vida plena quando forem magras.

Ver professores de educação física e nutricionistas apoiando o "antes-depois", tão comum na nossa sociedade de redes sociais, que disfarça a luta contra o gordo como luta pela saúde (antes e depois de colesterol eu nunca vi). O pior de tudo isso é ver estes profissionais de saúde apoiando uma figura dessa e compartilhando de maneira não crítica. Profissionais que continuam  incentivando não a luta contra o sedentarismo mas a luta contra a pessoa gorda. 







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